Performance de novembro nos fundos de Renda Fixa do plano CD

O impacto na performance de novembro nos fundos de renda fixa do plano CD foi a intensa remarcação das taxas dos papéis de crédito que aconteceu no mercado de títulos de crédito privado, na busca de maiores retornos no longo prazo. Os spreads de crédito em sendo remarcados pelos custodiante em função da forte movimentação de venda de ativos de crédito privado no mercado secundário. Esse movimento de venda é decorrente dos resgates feitos nos fundos de crédito destinado ao varejo. Com a queda da taxa Selic, as carteiras desses fundos já não estavam mais performando o suficiente para gerar uma rentabilidade acima do CDI. Além disso, com a Selic mais baixa, o movimento de busca por mais retorno via ativos mais arriscados também contribuiu para resgates de fundos DI e de crédito. Não vemos esse movimento nas carteiras dos investidores institucionais, que tem uma visão de mais longo prazo. Essa remarcação para cima nas taxas dos ativos de crédito privado reforça a nossa crença de que essa opção de investimento continua muito interessante para compor o portfólio, porém poderá impactar no curto prazo. As carteiras, após esse impacto, passarão a ter uma taxa de carregamento mais alta. Esse é um bom momento para comprar crédito a uma taxa mais alta. Vale ressaltar que esse movimento ainda não se estabilizou, mas já diminuiu de intensidade.  
 
Após um longo período de crescimento acelerado dos fundos de crédito locais dedicados, temos observado também, uma maior estabilidade.
 
Reforçando, com adicionais considerações sobre este movimento:

(i) Os juros em níveis baixos geram em um primeiro momento certa apreensão aos investidores, que tendem a migrar para investimentos com maior volatilidade (bolsa por exemplo) ou menor liquidez em busca de um maior retorno. No entanto, acreditamos que no longo prazo um ambiente de juros estáveis e em níveis controlados seja extremamente positivo para o mercado de crédito. Ao trazer maior previsibilidade sobre o custo de dívida e o custo de oportunidade para as empresas, incentiva um maior acesso ao mercado de capitais, possibilitando um mercado mais líquido e com maior número de emissores potenciais. Neste cenário os fundos de crédito devem se tornar uma alternativa ainda mais interessante no portfólio de investidores, oferecendo um prêmio acima do risco soberano em um mercado menos concentrado e com mais liquidez.

(ii) No entanto, em um cenário de juros mais baixos, o investidor médio tende a ponderar mais cuidadosamente o retorno adicional oferecido pelos fundos em detrimento não só do prazo de carência para resgate, mas também da volatilidade. Historicamente, devido ao elevado padrão histórico do CDI, no Brasil se convencionou olhar a rentabilidade de fundos de crédito como percentual do CDI. Desta maneira, entendemos que ao longo do tempo os investidores vão ter mais demanda por fundos que ofereçam um excesso de retorno potencial maior, tendo como contrapartida uma maior volatilidade.

No caso dos títulos privados, dois fatores principais influenciam seu preço: a taxa básica de juros e a situação das empresas que emitem esses papéis.

Começando pela situação das empresas, quanto maior a chance de inadimplência, maior devem ser os juros. E vice-versa. No cenário atual, a leitura é a de que as empresas brasileiras sofreram na crise e, para sobreviver, tiveram que se ajustar. Demitiram funcionários, fecharam áreas de negócio, melhoraram sua eficiência operacional, renegociaram dívida e mudaram seu portfólio de produtos e serviços. Ou seja, fizeram o dever de casa e hoje estão em condição muito melhor do que anos atrás. A consequência disso é que a chance de elas não honrarem com o pagamento das dívidas está muito menor hoje do que no auge da crise. Em outras palavras, o risco de crédito (calote) delas diminuiu.
Com isso, não apenas a demanda por títulos privados cresceu muito, como as empresas perceberam que dava para emitir mais dívida porque o mercado conseguia absorver. Mais saudáveis financeiramente, elas entenderam que não precisariam mais pagar prêmios (juros) caros para alguém comprar sua dívida, já que o risco de calote havia diminuído e a própria taxa básica da economia tinha caído. Então, esses novos títulos começaram a sair com taxas menores.

No caso dos juros, vimos a taxa Selic cair de 14,25% em outubro de 2016 para 5% hoje. Isso mudou completamente a remuneração das aplicações financeiras. As pessoas, então, começaram a procurar alternativas e o crédito privado foi uma delas. O atrativo? Remunerar um pouco acima do que paga um título público de mesmo prazo.

O processo que ocorreu decorre de um reequilíbrio entre oferta e demanda. Com a continuidade da queda da taxa de juros, alguns agentes de mercado passaram a se questionar se tinha havido um exagero e se a remuneração desses títulos privados não estava baixa demais. E se antes havia disposição dos agentes de aceitar comprar títulos com remuneração cada vez menores, outros investidores começaram a ficar mais seletivos e passaram a exigir um prêmio maior para comprar os papéis, enquanto alguns cotistas de fundos decidiram resgatar os recursos para investir em ações ou no setor imobiliário.

Concluindo, o que estamos presenciando é um movimento de mercado que afetou negativamente os preços (taxas mais altas) dos ativos de crédito. Esse movimento não foi relacionado à problemas generalizados de crédito/rebaixamento das notas de ratings/atrasos de pagamentos/default e etc.